terça-feira, 1 de junho de 2010

O QUE É A PSICOLOGIA SOCIAL?

Muitas pessoas fazem essa pergunta, visto que, quando confrontadas com esta disciplina, poucas sabem realmente qual o propósito da sua existência. O mais que pode acontecer é lembrarem-se de ciências sociais como a psicologia e a sociologia e pensarem que a psicologia social se apresenta como um meio através do qual se tenta dar resposta às preocupações de ambas. Porém, a realidade é mais complexa, uma vez que a psicologia social não constitui apenas a fronteira entre a psicologia e a sociologia, mas afirma-se, antes de mais nada, como uma disciplina autônoma. De fato, estas disciplinas partem de perspectivas teóricas distintas, ou seja, existem diferenças a nível da problemática teórica, dos problemas de investigação e dos paradigmas, construindo, assim, distintos objetos científicos.

A sociologia e a psicologia afirmaram-se, no final do século XIX como ciências autônomas, com objetos e métodos específicos, apresentando posições opostas na dimensão indíviduo-sociedade, cabendo à psicologia o estudo de disposições (motivações, intenções, atitudes, emoções) e à sociologia o estudo das representações sociais. De acordo com Silva e Pinto (1986), a psicologia evidencia a interação entre determinantes biológicos e culturais das condutas e elucida as funções psicológicas do ser humano enquanto ser que se adapta ao meio. Por outro lado, a sociologia procura realçar as regularidades que existem na sociedade, ou seja, os padrões decorrentes da vida social que determinam a ação e que são observáveis pela recorrência do relacionamento entre as pessoas. Assim, procura articular as regularidades com a ação, percebendo como a estrutura condiciona a ação e como é que a ação produz a estrutura. De modo sucinto, Silva e Pinto (1986) referem que os psicólogos centram a sua atenção nas estruturas psicológicas gerais das condutas e os sociólogos vêem as estruturas como condicionadas pelas dinâmicas de grupo e pelas organizações sociais. Verifica-se, assim, um fosso acentuado entre estas duas disciplinas pois, a psicologia dá enfâse à dimensão individual e a sociologia à dimensão societal.

Porém, a psicologia social rompe com a oposição entre o indivíduo e a sociedade, enquanto objetos dicotômicos que se autoexcluem, procurando analisar as relações entre indivíduos (interações), as relações entre categorias ou grupos sociais (relações intergrupais) e as relações entre o simbólico e a cognição (representações sociais). Assim, apresenta como objeto de estudo os indivíduos em contexto, sendo que as explicações são efetuadas tendo em conta quatro níveis de análise: nível intra-individual (o individuo), o nível inter-individual e situacional (interações entre os indivíduos ou contexto), o nível posicional (posição que o indivíduo ocupa na rede das relações sociais), e o nível ideológico (crenças, valores e normas coletivas). A afirmação como disciplina autônoma foi desencadeada pela existência de estudos que sustentavam um novo domínio do conhecimento: o da interferência dos outros no comportamento dos indivíduos. Pepitone (1981) considera que a inauguração formal da psicologia social é feita com a publicação, em 1908, de Social Psychology pelo sociólogo Ross e de An Introduction to Social Psychology pelo psicólogo McDougall. Contudo, para Ross a psicologia social procura explicar a uniformidade das crenças, dos sentimentos e das ações que é desencadeada pela interação dos seres humanos, enquanto que McDougall considera que o social está inscrito na natureza biológica do indivíduo.

Esta dupla referência do social e do psicológico continua ao longo da história da psicologia social, sendo que vai constituir o objecto de análise dos próximos artigos, tendo em conta, quer a psicologia social americana, que possui uma orientação mais psicológica, quer a psicologia social européia, que se tem interessado mais pelos fenÔmenos coletivos.