segunda-feira, 12 de outubro de 2009

ENTREVISTA A REVISTA ZAP

Você diria que o ambiente de negócios e o de guerra são similares?



Claro. São similares no sentido de que em ambos há o desejo de se ter algo diferente do que se tem no momento presente. Ambos estão relacionados a mudanças e a realizações.


Acho que na guerra sempre há pessoas pensando que sabem o que se passa na cabeça dos outros. Elas fazem isso ao invés de reservar um tempo para analisar o real contexto. Esse tipo de comportamento aparece o tempo todo no mundo dos negócios. No geral, boa parte dos profissionais fazem suposições em relação a algo e, então, tomam decisões baseando-se nessa “intuição”. Em vez de analisar todas as variáveis de uma situação, acaba fazendo escolhas por impulso.


Outra semelhança é que, assim como a guerra, o ambiente de trabalho também pode ser cheio de conflitos. As pessoas lidam com muitos problemas o tempo todo, por isso, o que um coach faz é aprimorar a capacidade delas agirem sob pressão e se relacionarem com situações adversas.


A postura de fazer suposições e os conflitos no ambiente de negócios ganharam maior intensidade com a crise econômica?


Quando você tem algo como a crise econômica ou uma organização passando por um período difícil é natural as pessoas ficarem na defensiva. No geral, elas avaliam como podem agir de forma segura para se manterem estáveis. O problema é que, quando estão na retaguarda, as pessoas constroem muros ao invés de pensarem em estratégias que criem oportunidades. Eu não estou dizendo que fazer planos de negócios defensivos seja ruim, mas eles devem ser aplicados por um curto período. Em situações econômicas como a que temos hoje, as empresas precisam avaliar como aproveitar as novas oportunidades. São em tempos como esse que companhias que abraçam as oportunidades farão diferença e serão muito importantes daqui a três ou quatro anos.


Neste momento de crise econômica o ideal é nos preocuparmos com o presente ou olharmos mais para o futuro?


Ambos. Quando eu digo que é importante a pessoa não ficar na defensiva não estou dizendo que ela não deva ser assim de forma alguma. A ideia é que você não deve agir sempre e apenas de forma defensiva.


É bom analisar o que está acontecendo no seu contexto para garantir que você não está desperdiçando dinheiro, que você consegue superar o dia de hoje e que os seus negócios podem sobreviver a situação de crise. Fazer tudo isso é importante, mas tão importante quanto é avaliar como você pode ser estratégico em relação ao futuro. Não se pode desviar o olhar do futuro só porque o dia de hoje está difícil, mas, ao mesmo tempo, não se deve apenas fantasiar sobre os dias que virão e deixar de olhar para o presente.


Como coach, meu trabalho é entender e aprender como as pessoas estão se comportando.

A grande mudança é quando, em qualquer tipo de conflito, os cidadãos se tornam mais comprometidos com o futuro do que com o passado. Se você consegue visualizar o futuro, então você é capaz de agir no presente de uma forma diferente. E isso realmente é a essência da atividade de coaching.


Como a experiência nos conflitos se reflete hoje no seu trabalho de coach?


Eu diria que hoje sou mais determinado e que dou maior valor a vida, especialmente a minha.


Existe alguma resistência à atividade de coaching? Qual seria?


A resistência ao coaching existe quando as pessoas vêem essa prática como terapia e às vezes isso acontece por uma única razão: ambas as atividades estudam o comportamento humano. A diferença é que o objetivo da terapia é promover a cura e o do coaching é promover o desenvolvimento.


Quando falamos de coaching estamos nos referindo ao conceito de pegar o potencial de alguém e aplicá-lo a uma realidade. Porém isso só é possível se não existir essa resistência que faz alguns profissionais terem uma visão deturpada do nosso trabalho. Às vezes as pessoas pensam que o meu trabalho é dizer que há algo de errado com elas, não entendendo que, na realidade, eu me aproximo por entender que existe uma oportunidade delas concretizarem seu potencial.


Coaches qualificados criam um ambiente em que a preocupação está em transformar o potencial de alguém em realidade. Por isso, um coach não faz perguntas como “o que você tem de errado?” ou “como eu posso te ajudar?”. Ao invés disso nos lançamos questões como “o que você gostaria de realizar?” ou “o que você acha que é preciso para você alcançar isso?”. Ou seja, um coach cria um ambiente diferente para o autoconhecimento, visando produzir possibilidades, e não cura.


E como o coach leva o profissional a descobrir o que quer?


A maioria das pessoas tem pelo menos alguma ideia do que quer ou do que precisa fazer para alcançar seus objetivos. O que ela não sabe é o que a mantém afastada dos seus alvos. Geralmente essa distância entre a pessoa e suas metas é criada por uma barreira emocional ou intelectual.


O que nós fazemos no coaching é, junto com o cliente, desenvolver de forma muita clara e objetiva estratégias para ele conseguir superar suas barreiras. Para isso, nós trabalhamos com datas. Ou seja, para que o profissional produza e obtenha resultados nós propomos prazos muito específicos, perguntando, por exemplo, o que ele gostaria de realizar nos próximos nove dias.


Além disso, fazemos os seguintes questionamentos: o que você pode fazer de diferente no seu dia a dia com o objetivo de produzir o resultado desejado? Quais comportamentos você está tendo hoje que não estão ajudando a chegar onde pretende? Nós colocamos essas perguntas não na posição de juizes ou no sentido de determinar “isso é certo” ou “isso é errado”, e sim com a finalidade de apontar o que a pessoas está fazendo e está funcionando, e o que ela está fazendo, mas não está funcionando.


Então o coach acaba interferindo na vida pessoal do cliente?


As questões levantadas pelo coach são na maioria das vezes pessoais, no entanto são colocadas sempre que há permissão. Toda a atividade de coaching acontece baseada na permissão que o cliente dá de entrar nos aspectos mais íntimos de sua vida.


Como coaches nós não damos conselhos. Não dizemos para as pessoas “isso é o que eu acho que você deveria fazer”, e sim oferecemos opções para elas escolherem a melhor forma de alcançar seu futuro. Na posição de coach eu ouço os planos do cliente, analiso suas propostas e, juntamente com ele, vejo todas as variáveis dos projetos apresentados, além de pensar em outras maneiras para se atingir o objetivo desse profissional. Nós oferecemos opções para a pessoa e damos suporte às decisões que ela toma.