segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A LOUCURA

De acordo com o dicionário da língua portuguesa, a loucura pode ser descrita como “distúrbio ou alteração mental caracterizada pelo afastamento do indivíduo de seus métodos habituais de pensar, sentir e agir”.

O “ser louco” faz parte de toda uma discussão que abrange algumas ciências. Para a Filosofia esta condição depende da sociedade em que se vive, do momento histórico e da cultura vigente. O que é considerado como loucura no Brasil, por exemplo, pode não ser numa cultura diferente.

Se para a medicina, a loucura figura um campo distinto entre o normal e o patológico, para a psicanálise a loucura não parte desse pressuposto. Freud afirma que a loucura faz parte de cada um de nós e está de certa forma no inconsciente e os loucos são aqueles que não resistiram a uma luta que é constante. Para Lacan, longe de ser a loucura o fato contingente das fragilidades de um organismo, ela é a virtude permanente de uma falha aberta na sua essência.

A loucura nos dias de hoje é mais um “ponto de vista” da sociedade do que verdadeiramente uma "doença". Pessoas consideradas "hostis às formas tradicionais de conduta" são logo taxadas de "loucas" ou são tratadas como tal.

Visto pela medicina como sendo passível de equívocos de diagnóstico e tratamento, podemos contextualizar o tema, assim como o fez Marshal Mac Luhan quando afirmou em sua obra que as pessoas profundamente envolvidas num processo sincrônico qualquer, são, às vezes, as menos indicadas para perceberem a dimensão diacrônica do processo de desdobramento histórico das estruturas, nas quais estão envolvidas. Ou seja, quanto mais se sabe sobre loucura, menos se sabe o que é loucura, a menos que se trate do "louco".

Assim como um ser masculino pode ter caracteres sexuais secundários como os mamilos, ou desejos femininos e isso não implica uma anomalia, a visão de mundo, a escala individual de valores, sua organização fisiológica, bioquímica, cultural e psíquica, pode até ser rotulada como loucura pelos envolvidos no processo sincrônico de investigação da transversalidade comportamental, mas são as menos indicadas para perceberem, em nível endógeno, a verdadeira realidade do que ocorre no interior do psiquismo do "louco".

Façamos a seguinte comparação: Se um médico decidir abandonar a carreira e viver no meio da selva amazônica, como o índio, sem sombra de dúvida será diagnosticado como "louco" por seus pares, não importa se tal médico, após profunda reflexão cartesiana sobre o futuro da espécie humana, em face aos danos ecológicos que podem levar-nos à extinção, tenha achado que os índios sejam mais sábios que os brancos e optado por viver como eles. Já a recíproca não é verdadeira. Se um índio abandonar sua tribo e resolver se esforçar para se tornar médico será por nós considerado um paradigma da genialidade.

Segundo alguns estudiosos, os mais atingidos pela doença mental são todas aquelas pessoas que ousam desafiar as regras consideradas padrão, e que são silenciados através de tratamentos psiquiátricos, marcados pelos meios mais violentos de nossa época. É chato para qualquer um confessar que já andou meio louco ou foi tratado como tal. A moralidade estabelece, de maneira mais ou menos definitiva, que quem foi internado num hospício perdeu para sempre o título humano. E os que escaparam às garras da doença devem tentar recuperá-los través do silêncio. Mais uma vez, aqui, a desumanidade dos preceitos e preconceitos evita que se lance luz sobre alguns aspectos mais significativos da existência humana.

Em assunto tão proibido, poucos tiveram a coragem de dar seu depoimento. Essa falta de testemunho é provocada pelo terror adquirido pelo paciente ou ex-paciente durante sua internação. Todos se recusam comentar a respeito dos choques elétricos, às comas de insulina e tudo o mais, e morrem de medo de voltar àquele inferno.

A psiquiatria enumera os vários tipos de doenças mentais, fazendo distinções, enredando-se freqüentemente em suas próprias definições na hora de fazer um diagnóstico concreto. O fato é que o choque elétrico é usado para todas elas, como meio de cura. Os psiquiatras dizem que o choque cura, mas não sabem por que cura.

Insanidade e psicose não podem ser mais respeitadas como definições que tenham um sentido, mas são apenas usadas por alguns indivíduos que detêm o poder social, para tratar maneiras de se comportar de pessoas que são estranhas, ameaçadoras e obscuras para eles.

A insanidade, hoje, é uma questão de definição e não de fato. A palavra loucura só pode ser usada literariamente, não tem nada a ver com ciência; insanidade é uma concepção legal, anacrônica e tão rígida quanto uma peça de Ibsen; e mesmo o moderno termo anticéptico psicose parece-lhe tão suspeito de preconceito ideológico que deve ser mantido à distância.

Para finalizar, para a psicanálise, o que se chama de loucura, delírio, alucinações, são elementos bastante valorizados para o trabalho.